O CARRASCO DO AMOR

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O CARRASCO DO AMOR: E Outras Histórias Sobre Psicoterapia


O livro de hoje é um dos que sempre deixo à mão – o “Carrasco do Amor” de Irvin D. Yalom, também autor do Best seller “Quando Nietzsche Chorou (When Nietzsche Wept)” publicado em 1992. Yalom é um psiquiatra com mais de 30 (trinta) anos de experiência. Desde criança ele já demonstrava profundo interesse pelos livros, o que muito provavelmente explica a forma tão talentosa com que transforma as queixas de seus pacientes em belíssimas narrativas. O Carrasco do Amor é uma obra que se tornou bastante popular nos EUA não apenas entre psicólogas(os), psiquiatras e psicanalistas, mas também para o público leigo em geral, muito provavelmente graças à linguagem fluida e acessível utilizada por dr. Yalom.

          Nesse livro são contados 10 casos (todos verídicos) de pacientes atendidos pelo dr. Yalom, são histórias que nos arrebatam, nos excedem, nos fazem rir, chorar e refletir sobre as nossas condições de existir no mundo. Acredito que uma das grandes façanhas do livro seja precisamente a sua capacidade de nos trazer para dentro das estórias. Em cada caso somos arrebatados por um singular sentimento de identificação e empatia. Ora nos sentimos na posição dos pacientes, ora na posição do terapeuta. Apesar de diametralmente opostas, as 10 histórias de vida narradas têm em comum o fato de que – em todas – os pacientes buscaram terapia por se debateram com a dor existencial. Quem já leu outras obras de Irvin Yalom sabe que morte, dores e dilemas existenciais são temáticas frequentemente abordadas em vários de seus trabalhos, inclusive em seus romances.

          Esse livro possui minha especial simpatia em função de algumas características de atuação do dr. Yalom enquanto terapeuta. Uma delas é a forma como ele se implica em todos os casos como um observador participante, ou seja, ele compreende que as questões e dilemas que afligem ao outro são questões que potencialmente também o afligem enquanto ser humano. Outro ponto com que me identifico é a sua compreensão do processo terapêutico/curativo como sendo, sobretudo, relacional, ou seja, um processo que vai infinitamente além do mero emprego da técnica. Eu vibrei por dentro quando li o trecho em que Yalom reconhece a sua condição de sujeito falível, suscetível ao erro e assume: “[...] Era hora de enfrentar a verdade: eu fizera um péssimo trabalho nesse caso, e não podia transferir a culpa para a paciente para seu marido ou para a condição humana”.

          E, acima de tudo, o que mais gosto em Yalom é que mesmo sendo um terapeuta mais alinhado à corrente fenomenológica ele apresenta um nível de conhecimento bastante elevado sobre as demais abordagens psicológicas e teorias da personalidade, daí a flexibilidade e segurança com que transita entre diversas teorias sem, contudo, perder de vista a coerência ou bom senso profissional. Sua posição frente às diferentes escolas de pensamento fica evidenciada na seguinte passagem:

Entretanto, obviamente, tudo isso é ilusão. Se chegam a ajudar os pacientes, as escolas ideológicas, com seus complexos edifícios metafísicos, têm sucesso porque diminuem a angústia do terapeuta, não a do paciente [...] Quanto mais o terapeuta for capaz de tolerar a angústia de não saber, menor será sua necessidade de abraçar a ortodoxia.

Espero que essa obra possa gerar emoções tão profundas em você quanto as que causou em mim. Para acessar a versão digital do livro clique na imagem.

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Alguns dos trechos que destaquei durante a leitura:

No entanto, eu não deixo de ter fé, minha Ave-Maria é a invocação socrática: ‘A vida não examinada não vale a pena ser vivida’.
Creio que o principal material da psicoterapia é sempre essa dor existencial — e não, como freqüentemente se afirma, as lutas instintivas reprimidas ou os fragmentos imperfeitamente enterrados de um passado pessoal trágico
“Mas nenhum presente foi maior do que o que ele me ofereceu pouco antes de morrer, [...] quando eu o visitei no hospital, ele estava tão fraco que mal conseguia se mexer, mas ergueu a cabeça, apertou a minha mão e sussurrou: — Obrigado. Obrigado por salvar a minha vida”.
“[...] espírito humano — esse frágil espectro incapaz de sobreviver sem a ilusão, sem o encantamento, sem esperanças impossíveis ou mentiras vitais.”
 “Ela possuía um amplo repertório de operações distanciadoras. Por exemplo, começava a introduzir o que iria dizer com um longo e enfadonho preâmbulo”.
 “É somente quando a terapia provoca profundas emoções que ela se torna uma poderosa força para a mudança”.
“O fato de ele ter esquecido o conteúdo da nossa última sessão não me preocupou muito. Era muito melhor que ele esquecesse o que conversamos do que a possibilidade contrária (uma escolha bem mais comum para os pacientes) — lembrar exatamente o que foi dito, mas não mudar.”
“Psicólogos populares falam continuamente sobre "aceitação da responsabilidade", mas essas são só palavras: é extremamente difícil, inclusive aterrorizante, chegar ao insight de que você, e apenas você, constrói seu próprio plano de vida”.

“Assim, o problema na terapia é sempre como ir de uma apreciação intelectual ineficaz de uma verdade a respeito de si próprio até uma experiência emocional dessa verdade. É somente quando a terapia provoca profundas emoções que ela se torna uma poderosa força para a mudança”.
"[...] uma obsessão amorosa drena a realidade da vida e anula novas experiências [...]"
“Nós, psicoterapeutas, não podemos simplesmente tagarelar com simpatia e exortar os pacientes a se debaterem corajosamente com os seus problemas. Nós não podemos dizer a eles você e seus problemas. Ao contrário, devemos falar de nós e de nossos problemas, pois a nossa vida, a nossa existência, estará sempre presa à morte, do amor à perda, da liberdade ao temor e do crescimento à separação. Nós, todos nós, estamos juntos nisso”.
    
 Sinopse

Solidão, desprezo, obsessões amorosas, depressão... Este livro traz a história de dez pacientes que procuraram soluções para seus problemas cotidianos, buscaram terapia e que se depararam com as raízes das próprias dores da maneira mais crua. Um livro que mostra como é possível enfrentar as verdades da existência e aproveitar tal poder para mudar e crescer em nível pessoal.

Yalom, Irvin D.; O carrasco do amor. Tradução Maria Adriana Veríssimo Veronese, — Rio de Janeiro: Ediouro, 2007.

Outras obras do autor**


(Romances)


·         (1992) Quando Nietzsche Chorou (When Nietzsche Wept)
·         (1996) Mentiras no Divã (Lying on the Couch)
·         (2005) A Cura de Schopenhauer (The Schopenhauer Cure)
·         (2012) O Problema Espinosa (The Spinoza Problem)

(Não ficção)


·         (1970) Psicoterapia em Grupo - Teoria e Prática (The Theory and Practice of Group Psychotherapy)
·         (1974) Cada Dia Mais Perto (Every Day Gets a Little Closer)
·          (1989) O Carrasco do Amor (Love's Executioner and Other Tales of Psychotherapy)
·         (1998) Vou Chamar a Polícia (The Yalom Reader)
·         (1999) Mamãe e o Sentido da Vida (Momma and the Meaning of Life)
·         (2001) Os Desafios da Terapia (The Gift of Therapy: An Open Letter to a New Generation of Therapists and Their Patients
·         (2008) De Frente Para o Sol (Staring at the Sun: Overcoming the Terror of Death)
·         (2015) Creatures of a Day [Será lançado no Brasil] 


 **Consultado em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Irvin_D._Yalom>


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