Karen Horney, a Psicanalista Neo-Freudiana

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Vida e Obra:


Alemã, nascida em 16 de setembro de 1885, a psicanalista Karen Horney foi uma das muitas mulheres silenciadas na academia. Isso porque, assim como em todos os outros nichos da produção científica e literária, a psicanálise reflete inexoravelmente o machismo e a misoginia operados por meio da invisibilização e/ou inferiorização dos trabalhos femininos. Além disso, por discordar de alguns pressupostos freudianos, Horney foi expulsa da sociedade psicanalítica de sua época que, sendo tipicamente vitoriana, tratava as mulheres como frágeis e débeis, o que, fatalmente, empurrava o discurso feminino para o descrédito.

Apesar de nascida em Hamburgo (na Alemanha), Horney se naturalizou norte-americana no ano de 1938, poucos anos após sua radicação nos Estados Unidos, na qual veio a falecer em 1952. Sua vida foi integralmente dedicada ao desenvolvimento da psicanálise. Lecionou no Instituto de Psicanálise de Berlin, e manteve, muitos anos, nessa Capital, uma clínica psicanalítica. Foi diretora assistente do Instituto de Psicanálise de Chicago, professora do Instituto de Psicanálise de New York e da Nova Escola de Pesquisa Social, também dessa cidade.

Há dois aspectos na teorização de Horney que são especialmente nevrálgicos para a teoria de Freud:

O primeiro ponto, o meu preferido, é o postulado da autora de que a teoria freudiana da "inveja do falo" pelas mulheres é, na verdade, um mecanismo para mascarar o ódio e a inveja masculina da potência criativa interna inerente às pessoas que possuem útero. Além disso, Horney observa que, graças ao útero, a mulher pode exercer sua criatividade sobre o mundo interior (por meio da gestação) e exterior a ela. Aos homens restaria apenas a possibilidade de exercer sua criatividade sobre o mundo externo, já que seus ventres, na ausência de um útero, são incapazes de gerar/criar.
O segundo ponto interessante é que, para a autora, a concepção de Freud sobre as neuroses é frágil na medida em que inscreve exclusivamente sobre o sujeito sintomas que são produzidos em uma sociedade ou meio profundamente neurotizantes (adoecedores). Para Horney o sujeito que faz um sintoma neurótico deve, antes de mais nada, ser compreendido dentro de uma circunscrição socio-histórica-geográfica a fim de não se recair em análises superficiais, generalistas, e, por que não dizer, falaciosas.

Karen Horney – junto a Alfred Adler, Carl Jung, Erich Fromm e outros – é considerada uma das mais proeminentes pensadoras do movimento neo-freudiano[1], por ter desafiado as convenções da psicanálise tradicional e ter permitido que essa orientação teórica fosse estendida, especialmente no campo da neurose.

Horney também foi a primeira mulher psiquiatra que publicou ensaios sobre a saúde mental feminina e questionou as abordagens biológicas em relação às diferenças de gênero de seus predecessores, pelo que é considerada a fundadora da psicologia feminista[2].

Em sua psicologia feminista, escreveu sobre temas que incluem a sobrevalorização da figura masculina, as dificuldades da maternidade e as contradições inerentes à monogamia.

Algumas frases da autora:

“O menoscabo dos fatores culturais por Freud não só conduz a generalizações falsas, como, em grande parte, opõe-se à compreensão das forças reais que motivam nossas atitudes e atos. Creio que esse descaso é a principal razão por que a psicanálise, na medida em que segue fielmente as sendas teóricas desbravadas por Freud, a despeito de suas aparentemente ilimitadas potencialidades parece ter batido em um beco-sem-saída [sic], manifestando-se por um exuberante florescimento de teorias obscuras e pelo emprego de uma terminologia confusa”. (HORNEY, 1959)
“Vimos, então, que uma neurose implica em um afastamento do normal. Este critério é muito importante, conquanto não seja suficiente: as pessoas podem desviar-se da configuração geral sem serem neuróticas”. (HORNEY, 1959)

Horney deixou várias obras valiosas no campo da psicanálise, a seguir apresento a bibliografia da autora:

HORNEY, Karen. A personalidade neurótica do nosso tempo. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira S.A., 1959.
______. Conheça-se a si mesmo. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1966.
______. Novos rumos da psicanálise. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1959.
______. Neurose e desenvolvimento humano. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1959.
______. Psicologia feminina. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1972.
______. Nossos conflitos interiores. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1964.
______. Últimas conferências sobre técnicas psicanalíticas. São Paulo: Bertrand Brasil.

Para baixar o PDF* do Livro "A personalidade Neurótica do Nosso Tempo"

Títulos em inglês[3]:

Neurosis and Human Growth, Norton, New York, 1950. ISBN 0-393-00135-0
Are You Considering Psychoanalysis? Norton, 1946. ISBN 0-393-00131-8
Our Inner Conflicts, Norton, 1945. ISBN 0-393-00133-4
Self-analysis, Norton, 1942. ISBN 0-393-00134-2
New Ways in Psychoanalysis, Norton, 1939. ISBN 0-393-00132-6 (alternate link)
The Neurotic Personality of our Time, Norton, 1937. ISBN 0-393-01012-0
Feminine Psychology (reprints), Norton, 1922–37 1967. ISBN 0-393-00686-7
The Collected Works of Karen Horney (2 vols.), Norton, 1950. ISBN 1-199-36635-8
The Adolescent Diaries of Karen Horney, Basic Books, New York, 1980. ISBN 0-465-00055-X
The Therapeutic Process: Essays and Lectures, ed. Bernard J. Paris, Yale University Press, New Haven, 1999. ISBN 0-300-07527-8
The Unknown Karen Horney: Essays on Gender, Culture, and Psychoanalysis, ed. Bernard J. Paris, Yale University Press, New Haven, 2000. ISBN 0-300-08042-5
Final Lectures, ed. Douglas H. Ingram, Norton, 1991.—128 p. ISBN 0-393-30755-7 ISBN 9780393307559

 * A versão original do PDF encontra-se disponível no site do Filosofia Esotérica (http://www.filosofiaesoterica.com/personalidade-neurotica-do-tempo/) 





[1] Os psicanalistas neofreudianos foram pensadores que concordavam com a base da teoria da psicanálise Freudiana, porém a modificaram ou adaptaram para incorporá-la às suas próprias crenças, ideias e teorias. Sabemos que algumas das ideias freudianas eram altamente controversas, entretanto atraíram um grande número de seguidores. Muitos destes pensadores concordam com o conceito do inconsciente trazido por Freud, e sobre a importância de seu estudo da primeira infância. Porém, há um vasto número de pontos que outros pensadores discordaram ou rejeitaram. Devido a isso, estes estudiosos propuseram suas teorias exclusivas da personalidade. (Informação extraída de http://www.valordoconhecimento.com.br/blog/as-principais-teorias-da-psicanalise-neofreudiana/).
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